Brasília, Brazil
August 17, 2007
Alessandra Bastos,
Agência Brasil
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Articulação no Semiárido
Brasileiro (ASA) entregaram hoje (17) uma carta intitulada “Por
um semiárido livre de algodão transgênico” à Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança (CTNbio) durante audiência pública que
debateu as diferentes opiniões da sociedade sobre a liberação de
novas variedades de algodões transgênicos.
No documento, os movimentos pedem que toda a região do semiárido
nordestino seja deixada fora da área de zoneamento permitida à
plantação de transgênicos. Um tipo de algodão modificado
geneticamente já foi liberado pela CTNbio e outros três estão
sendo analisados.
A coordenadora-executiva da Asa em Paraíba, Vanúbia Martins,
conta que 400 famílias de agricultores do semiárido desenvolvem
técnicas agroecológicas (sem uso de agrotóxicos). Os
agricultores do Nordeste “plantam algodão de forma ecológica,
sabendo de todos os índices de praga. O Nordeste tem uma
incidência imensa de algodão nativo. Isso emprega outras 800
famílias de clubes de mães e cooperativas que estão trabalhando
sem risco nenhum de contaminação. Sem contar os agricultores que
trabalham com algodão orgânico que já nasce colorido”.
O primeiro motivo para continuar plantando algodões sem
agrotóxicos é econômico. “A Europa hoje paga muito mais caro
pelo algodão agroecológico. Esses agricultores têm mercado certo
e o algodão vale três vezes mais que o orgânico”, explica a
coordenadora paraibana. Além do mercado já consolidado, a
produção de transgênicos acarretaria no pagamento a empresas
internacionais pelo uso da tecnologia. “Tem agricultor que tem
um hectare. Como ele vai fazer para pagar royalties?”,
questiona.
Outro argumento usado contra o algodão transgênico é a própria
proteção ao meio ambiente já que uma planta geneticamente
modificada pode “contaminar” outras plantas próximas,
modificando-as também. “Se o meu algodão, produzido
ecologicamente for contaminado, num segundo momento eu teria que
forçosamente voltar a usar o agrotóxico”, argumenta Vanúbia
Martins.
Além disso, "mais de 170 espécies de animais visitam os
algodoeiros na época de flora. Imagina você ter controle de
todos os insetos que passam por isso e que viajam podendo
contaminar um campo a longa distância! Ou eliminamos de vez
todos os insetos pra poder fazer uma barreira ou estamos todos
contaminados”.
Por todas essas causas, os movimentos sociais querem que o
governo “reveja a área de zoneamento e todo o semiárido seja uma
área de exclusão. Queremos continuar produzindo ecologicamente
e, para isso, o direito de não sermos contaminados”.
Já os agricultores da Cooperativa Copasul Agrícola Navirai do
Mato Grosso do Sul fizeram uma caravana até Brasília par
participar da audiência pública em defesa dos transgênicos. O
produtor Donizete pereira Melo tem 192 hectares de terra no Mato
Grosso do Sul. Há um ano, parte da produção de soja, milho,
feijão e algodão é geneticamente modificada.
O agricultor gostou dos resultados. “Não afeta a produção e pelo
que constatamos não faz mal a saúde. Usa 50% do agrotóxico que a
gente usa nos orgânicos. Eu já tenho exame médico e a doutora já
me proibiu de usar veneno porque o meu nível de veneno no sangue
já está alto. A gente economiza no uso de herbicida e o preço
das sementes transgênicas e orgânicas estão mais ou menos a
mesma coisa”. |
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