Brazil
February 13, 2007
Com a meta de colocar o Brasil
entre as lideranças mundiais em biotecnologia na próxima década,
o presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou ontem, dia 08, a
Política de Desenvolvimento da Biotecnologia, estabelecendo
diretrizes e objetivos para o setor. Essa política foi
estabelecida com base na Estratégia Nacional de Biotecnologia,
documento resultante dos trabalhos do Fórum Nacional de
Competitividade em Biotecnologia que, durante quase dois anos,
reuniu representantes do governo, do setor acadêmico e do setor
produtivo que juntos discutiram o desenvolvimento biotecnológico
nas áreas de saúde humana, agropecuária, industrial e ambiental,
assim como os marcos regulatórios necessários para a promoção
desse desenvolvimento.
Iniciativa dos Ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT), da
Agricultura (MAPA), do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC) e da Saúde (MS), com a participação do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Fórum de Competitividade em
Biotecnologia atendeu à necessidade de definição de uma política
para a bioindústria, que foi considerada prioritária dentro da
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).
O importante agora, de acordo com Leila Oda, pesquisadora da
FioCruz e presidente da
Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), será o início
das atividades do Comitê Nacional de Biotecnologia, responsável
pela coordenação da implementação da nova Política de
Desenvolvimento “Existe capacitação nas universidades e nos
centros de pesquisa. É preciso agora promover o escoamento do
conhecimento para a indústria, a agricultura e a saúde. Temos
que avançar na pesquisa aplicada, o principal mecanismo de
competitividade para o Brasil na área de biotecnologia”,
salientou Leila Oda.
De acordo com Leila Oda, que integra o Fórum de Competitividade
de Biotecnologia, o trabalho diagnosticou as oportunidades e os
principais aspectos a serem melhorados, legal e
institucionalmente, em quatro grandes áreas de informação,
reunidas em grupos de trabalho: Propriedade Intelectual, Acesso
ao Patrimônio Genético, Certificação de Material Biológico e Lei
de Inovação e Lei de Biossegurança (GT- Marco Regulatório).
“Agora, o Fórum passará a assessorar o Comitê Nacional de
Biotecnologia, propondo novas ações para o aperfeiçoamento
continuado da Política de Desenvolvimento da Biotecnologia e é
fundamental que não existam mais entraves regulatórios ou
jurídicos que impeçam a rápida absorção do desenvolvimento
biotecnológico pela sociedade brasileira”, informa Leila Oda.
A pesquisadora elogiou os aspectos de biossegurança contemplados
na Política de Desenvolvimento de Biotecnologia, dentro da
diretriz de garantir a segurança da saúde humana e do meio
ambiente, em observância à Convenção sobre Diversidade Biológica
e à Lei de Biossegurança. “São marcos regulatórios a serem
fortalecidos e aperfeiçoados frente aos novos processos de
inovação tecnológica, não podemos desenvolver produtos se não
tivermos agilidade no processo de avaliação”, observou. “Além
disso”, acrescentou, “é preciso capacitar pessoas para a
avaliação, gestão e comunicação de riscos, considerando os
impactos na saúde humana e no meio ambiente”.
Para Leila Oda, o Brasil precisa atrair novos talentos para a
área de Ciências da Vida, onde se inclui a biotecnologia.
“Precisaremos reformular o ensino das ciências, com novos
currículos de graduação e pós-graduação, contemplando a
interdisciplinaridade desses profissionais, sempre em
alinhamento com as necessidades do setor agrícola, industrial e
de saúde”, prevê a presidente da ANBio. Aos profissionais que já
estão na área, ela considera necessária uma política de fixação,
“assim como a promoção de capacitação de mestres e doutores em
avaliação e gestão nesses empreendimentos de base tecnológica”.
“Sem biossegurança e sem estímulo a esses profissionais, a
política de desenvolvimento correria risco”, aponta.
Inovações em plantas e animais
Ao considerar a agropecuária como um dos alvos estratégicos da
Política de Desenvolvimento de Biotecnologia, de imediato foram
priorizadas inovações biotecnológicas nessa área tais como
plantas resistentes a fatores bióticos a abióticos
(cana-de-açúcar resistente à seca, soja resistente à seca e à
ferrugem asiática, feijão resistente a vírus), plantas e animais
biorreatores para produção de biomoléculas, vacinas veterinárias
(contra doenças de Gumboro, cinomose, hepatite, adenovírus,
coronavírus, parainfluenza canina, parvovirose, leptospirose,
clostridiose, doença de Marek, pneumonia, coccidiose, raiva,
bronquite infecciosa, doença de Newcastle, conjuntivite,
carrapato babesia, anaplasma, entre outras), substâncias
bioativas da biodiversidade brasileira, tecnologias biológicas
para produção animal e vegetal e ainda a bioindústria de
transformação para aproveitamento de subprodutos animais e
vegetais.
Ainda na área de aplicações de biotecnologia agrícola, foram
elencados como alvos estratégicos entre os produtos e processos
inovadores a biomassa para produção de etanol e biodiesel, a
hidrólise enzimática para a produção de etanol a partir da
celulose, a produção de biopolímeros (plásticos biodegradáveis),
etanol a partir de celulose e da lignocelulose, processos
fermentativos anaeróbios para produção de metano destinado à
geração de energia elétrica, combustão veicular e síntese de
outros produtos, outros procesos fermentativos a partir do
açúcar e/ou álcool (ácido acético, butanol, etc.) e ainda a
produção de biohidrogênio.
A Associação Nacional de Biossegurança (ANBio) foi criada em
1999, com o objetivo de difundir informações a respeito dos
avanços da biotecnologia moderna e seus mecanismos de controle.
No seu escopo de trabalho estão a promoção do conhecimento
relativo à biossegurança e de suas práticas, como disciplina
científica, além da capacitação e orientação de profissionais
que implementam a biossegurança em instituições de pesquisa e
ensino da área biomédica. |