Brazil
January 29, 2007
A Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia está desenvolvendo pesquisas com
semioquímicos (feromônios) para controle e monitoramento de
percevejos que atuam como pragas na cultura da soja no Brasil.
As pesquisas estão sendo conduzidas em parceria com a empresa
privada Biocontrole - Métodos de Controle de Pragas Ltda. e vão
resultar no desenvolvimento do primeiro produto biológico a base
de semioquímicos para o controle do percevejo marrom da soja no
Brasil. Miguel Borges, coordenador das pesquisas, acredita que o
produto chegue ao mercado ainda este ano.
Segundo o pesquisador, os semioquímicos ocupam hoje cerca de 30%
do mercado de biopesticidas no mundo, perdendo apenas para os
inseticidas bacterianos e os botânicos. No Brasil, o mercado de
semioquímicos está em franca expansão, com mais de 15 produtos
registrados e outros em fase de registro.
Os feromônios são os mais importantes elementos da comunicação
entre os insetos. São substâncias químicas de cheiro peculiar,
presentes em cada espécie, que atuam como meios de comunicação.
Na natureza, os feromônios são responsáveis pela atração de
indivíduos da mesma espécie para acasalamento, demarcação de
território e outros tipos de comportamento. Os cientistas
reproduzem, em laboratório, as condições observadas na natureza
para monitorar o comportamento dos insetos-praga e interromper a
sua reprodução.
Miguel coloca que no momento os estudos estão mais direcionados
para o percevejo marrom da soja (Euchistus heros), mas o
objetivo é estendê-los para todo o complexo de percevejos-praga
da soja, que inclui também: o percevejo verde (Nezara viridula)
ou maria fedida, como é popularmente conhecido, e o percevejo
pequeno (Piezodorus guildinii), além das espécies "Thyanta
perditor", "Acrosternum impicticorne", "Acrosternum ubicum" e
"Dichelops melacanthus" ou barriga verde.
Esses insetos estão entre as piores pragas dessa cultura no
Brasil hoje, por se alimentarem diretamente nos grãos, causando
sérios prejuízos no rendimento e na qualidade das sementes.
Dentre os principais danos, destacam-se: sementes com baixo
vigor, menor teor de óleo, além do fato de que os percevejos
facilitam a entrada de fungos, que podem causar outras doenças
nas plantas.
Adicionalmente aos danos causados na cultura da soja, as
mudanças ambientais e comportamentais induzidas pelas modernas
práticas agrícolas têm preocupado produtores de algodão, pois
durante a colheita da soja é observada uma grande migração dos
percevejos para a cultura do algodão, danificando as maçãs do
algodoeiro e reduzindo a produção. Essa migração tem ocorrido
também para a cultura do milho, especialmente das espécies "N.
viridula" e "Dichelops sp.", causando perdas em plantas de milho
com até 25 dias de plantio.
O controle biológico das pragas da soja é uma prioridade,
segundo Borges, já que essa cultura é de extrema importância
para o Brasil, que hoje é o segundo maior produtor mundial, com
uma produção de cerca de 60 milhões de toneladas. Mas,
futuramente, os estudos com feromônios serão estendidos também
para outras culturas agrícolas. Já foram iniciados estudos, em
parceria com a Embrapa Acre, para utilização dessas substâncias
no controle da broca do cupuaçu em um programa de agricultura
familiar denominado RECA (Projeto de Reflorestamento Econômico
Consorciado e Adensado).
Estudos estão sendo conduzidos também em parceria com a Embrapa
Arroz e Feijão para utilização dessas substâncias no controle do
percevejo do colmo do arroz, "Tibraca limbativentris".
Cientistas estudam também a comunicação sonora entre os insetos
A equipe do Núcleo de Controle Biológico da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, unidade da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária , vinculada ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento está investindo também em estudos de
comunicação sonora entre os insetos, em parceria com a Embrapa
Instrumentação Agropecuária( São Carlos/SP), com o objetivo de
conhecer melhor o seu comportamento na natureza para poder
manipulá-los em laboratório e viabilizar formas de controle na
agricultura.
Segundo Borges , os estudos também estão sendo desenvolvidos com
o percevejo marrom da soja e podem ser muito úteis para atração
de inimigos naturais dessa praga nas lavouras.
Primeiro, o som é gravado a partir dos insetos em laboratório.
Depois, são reproduzidos e testados com as pragas e seu inimigo
natural, a vespinha parasitóide de ovos. O objetivo, de acordo
com o pesquisador, é chegar a um pequeno chip contendo os sons
emitidos pelos insetos para colocação em armadilhas que serão
utilizados no campo para captura dos percevejos e atração de
seus inimigos naturais.
Fernanda Diniz |