Brasília, Brazil
July 13, 2007
Iniciativa prevê a participação
de pequenos produtores no processo de conservação e uso de
espécies de abóbora, abobrinha, moranga e melancia.
A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa e instituições parceiras estão dando
início a uma iniciativa que vai incrementar a produção racional
e sustentável de cucurbitáceas em áreas de agricultura familiar
e assentamentos da reforma agrária: a criação da Rede
Participativa em Pesquisa e Desenvolvimento com Recursos
Genéticos de Cucurbitáceas (REPARTIR). Entre as cucurbitáceas,
as mais conhecidas no Brasil são: a abóbora, abobrinha, moranga
e melancia. Como o próprio nome já sugere, a Rede Repartir vai
contar fundamentalmente com a participação dos pequenos
produtores para promover ações relacionadas à conservação,
valorização e uso dos recursos genéticos. Essa integração é
fundamental para fortalecer a agricultura tradicional e garantir
a segurança alimentar e nutricional.
Inicialmente a Rede conta com a participação da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia; Embrapa Hortaliças; Embrapa
Agroindústria Tropical; Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq); Programa Biodiversidade
Brasil-Itália; Universidade Federal de Minas Gerais/Núcleo de
Ciências Agrárias (UFMG/NCA); Instituto Capixaba de Pesquisa,
Extensão Rural e Assistência Técnica (INCAPER); Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Porteirinha (STR Porteirinha); Centro de
Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM); Cooperativa
de Trabalho da Reforma Agrária do Distrito Federal e Entorno
(COOTRADFE) e do Núcleo de Agricultura Sustentável do Cerrado
(NASCer).
Até o momento foram estabelecidos pólos de treinamento e de
difusão na Comunidade Furada da Onça, Porteirinha-MG; no
Assentamento Cunha, Cidade Ocidental-GO e no Assentamento
Mulungu, Tururu-CE. Nestes pólos são estabelecidos ensaios de
campo que servem de base para a capacitação e a divulgação dos
conhecimentos e das tecnologias.
As cucurbitáceas e sua importância na produção agrícola
brasileira
A família Cucurbitaceae, grupo vegetal que habita as regiões
tropicais do mundo, é formada por cerca de 118 gêneros e mais ou
menos 825 espécies. Entre as espécies cultivadas desta família
estão: a melancia (Citrullus lanatus), abóbora (Cucurbita
moschata), abobrinha (Cucurbita pepo) e moranga (Cucurbita.
maxima), que ocupam uma parcela significativa do agronegócio
brasileiro, estimado em R$ 300 milhões anuais. Estas espécies
também são importantes para a agricultura familiar que cultiva
inúmeras variedades locais.
A espécie Luffa cylindrica (bucha vegetal), apesar de apresentar
menor expressão econômica, é cultivada em algumas áreas de
agricultura familiar. A produção de bucha tem aumentado diante
do mercado promissor de consumo das esponjas vegetais orgânicas.
A bucha orgânica apresenta uma série de vantagens em relação
àquelas fabricadas com materiais sintéticos pelo fato de serem
naturais, biodegradáveis e não poluentes, já que não geram
resíduos contaminantes na sua produção e beneficiamento. Além
dessas vantagens, apresenta propriedades esfoliantes, sendo
usada para limpeza cutânea e massagens, por acelerar a
circulação sanguínea e na limpeza de utensílios domésticos e
sanitários.
Apesar das cucurbitáceas não serem nativas do Brasil, são
espécies domesticadas e cultivadas há séculos e, em virtude
disso, existe uma ampla variabilidade genética representada
pelas variedades locais cultivadas nas diferentes regiões
brasileiras. No entanto, as variedades locais sofrem diferentes
pressões que podem levar a uma erosão genética.
Repartir para produzir mais e melhor
O desenvolvimento das pesquisas coordenadas pela Rede Repartir
pode possibilitar a inclusão social, o fortalecimento da
agricultura tradicional, a geração de renda e de trabalho e,
conseqüentemente, a segurança alimentar e nutricional. Tem ainda
como finalidade integrar os diferentes beneficiários com base em
um enfoque metodológico participativo, multidisciplinar e
interdisciplinar, de forma a possibilitar uma interação
consistente e constante entre pesquisadores e produtores.
Para isso, a Rede prevê o desenvolvimento das seguintes
atividades:
- Disponibilização de
tecnologias existentes que contribuam para a
sustentabilidade e a segurança alimentar das comunidades;
- Resgate, caracterização e
desenvolvimento de programas de pesquisa participativa na
avaliação, seleção, melhoramento e produção de variedades
locais de cucurbitáceas;
- Caracterização de
variedades locais de abóbora para o teor de beta-caroteno,
composto anti-oxidante e precursor da vitamina A, visando à
produção de alimentos funcionais e à confecção de rotulagem
nutricional;
- Utilização de ferramentas
da biologia molecular para quantificar a diversidade
genética e auxiliar no manejo e na conservação de variedades
locais de cucurbitáceas;
- Beneficiamento da bucha
para comercialização de esponja vegetal agroecológica, como
uma fonte de renda alternativa para as comunidades, gerando
uma nova oportunidade de mercado;
- Desenvolvimento de
estratégias para o estabelecimento de redes locais para
produção e difusão de sementes de variedades locais de
cucurbitáceas;
- Capacitação de pequenos
produtores, técnicos e estudantes em resgate, manejo,
melhoramento participativo e produção de variedades
tradicionais.
Maria Aldete
Ferreira
Pesquisadora
Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia |
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