Brazil
November 9, 2007
Em apenas dois anos, o
Assentamento Carlos Lamarca, localizado no município sergipano
de Simão Dias, passou da condição de assistido de programas de
distribuição de sementes à auto-suficiência na produção do
insumo.
A façanha tem sido possível graças a programa desenvolvido junto
com a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e em parceria com
o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Secretaria de
Agricultura e Desenvolvimento Rural de Sergipe.
O assentamento quer, agora, licença para atuar na
comercialização de sementes. Neste ano, os agricultores
alcançaram uma produção de sete toneladas de milho numa área de
cerca de um hectare e meio, um recorde pois nessas condições a
produtividade média é de cerca de três toneladas. O resultado
deve-se tanto à variedade de milho - denominada Catingueiro e
que foi desenvolvida para a região semi-árida nordestina por
pesquisadores da Embrapa - como à capacidade técnica dos
agricultores, treinados pela Empresa no trabalho de
multiplicação de sementes.
A avaliação é do gerente-geral José Roberto Rodrigues Peres, da
Embrapa Transferência de Tecnologia, unidade da Empresa
responsável pela coordenação do Programa de Produção de Sementes
no Âmbito da Agricultura Familiar. Segundo Peres, a Embrapa
poderá contratar a associação que congrega os agricultores
familiares do Assentamento Lamarca para produção de sementes
básicas, “desde que atendam aos pré-requisitos da Lei de
Sementes e sejam credenciados junto ao Ministério da
Agricultura”, explica.
Adequação
De acordo com o técnico do Departamento de Desenvolvimento
Agropecuário de Sergipe (Deagro), vinculado à Secretaria de
Agricultura e Desenvolvimento Agrário, Lourival de Santana
Matos, a adequação da Associação às normas do Mapa poderá ser
conseguida no próximo ano.
Os agricultores do Lamarca contam com um galpão de cerca de 200
metros quadrados que seria suficiente para armazenamento da
produção de sementes para a comunidade e ainda o excedente para
comercialização, explica Matos.
O pesquisador da Embrapa Transferência de Tecnologia, Alberto
Alves de Santana, responsável pela capacitação dos agricultores
do Assentamento Lamarca, diz que a comunidade encaminhou ao
Programa documento solicitando a doação de um kit de Unidade de
Beneficiamento de Sementes (UBS), já que os trabalhadores têm
utilizado maquinário da Embrapa.
*Auto-suficiência* – O Programa desenvolvido pela Embrapa na
região e que está prestes a elevar as 35 famílias do
assentamento de Simão Dias à condição de comerciantes de semente
poderá proporcionar resultados semelhantes àquele Estado. “Com
base no Programa pretendemos fazer de Sergipe um Centro Produtor
de Sementes para a Região Nordeste”, informa o secretário de
agricultura do Estado, Paulo Viana.
A idéia parece ambiciosa, mas para Viana os resultados
alcançados em cerca de dois anos com a adoção de metodologias e
tecnologias da Embrapa de multiplicação de sementes de
variedades adaptadas de milho e feijão e ainda de propagação
rápida da mandioca desencadeia um círculo virtuoso.
Em 2007, parte dos agricultores familiares que dependia do
governo para aquisição de grãos produziu sua própria semente e
ainda gerou excedente. Com isto, explica o secretário, o Estado
economizou mais de R$ 3 milhões, além de reduzir queixas
relacionadas à qualidade do produto e ao atraso na chegada do
insumo para o plantio – geralmente depois da época ideal devido
à burocracia para sua aquisição.
A expansão da produção de milho com o Catingueiro impulsionou o
mercado de máquinas na região, tendo sido também o aval para que
o Estado figurasse no zoneamento agrícola do Ministério da
Agricultura, diz Viana. O milho é insumo para a cadeia produtiva
do leite e da avicultura, além de ser largamente utilizado para
consumo humano no Nordeste.
O mercado garantido para a produção das associações de pequenos
produtores tendo o Estado como comprador completam o círculo
virtuoso gerado a partir do preenchimento de uma grande lacuna:
a chegada da tecnologia aos agricultores de base familiar do
Nordeste brasileiro, finaliza Viana. |
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