Brazil
February 8, 2008
Diminua o vazio farrageiro outonal
Semeie capim italiano ou milheto, aveia de verão ou capim sudão,
teosinto ou dente de burro, sorgos forrageiros e milho em alta
densidade – Geada é o Limite!
Renato Serena Fontaneli, Ph.D.
Pesquisador da Embrapa
Trigo, Passo Fundo, RS.
Iniciada a colheita do milho no Rio Grande do Sul, muitos
agricultores perguntam-se o que fazer nessa área. Para os que
praticam a integração lavoura-pecuária, especialmente com vacas
leiteiras e, sabem que os piores meses para ofertarem boa
quantidade de forragem de bom valor nutritivo são os meses de
outono, conhecido por vazio forrageiro outonal. Nesse período,
as espécies de verão estão maturando, que implica em baixa
digestibilidade, além de baixa taxa de crescimento. As espécies
de inverno, aveia,azevém, centeio, cevaca, triticale, trigo,
ervilhaca e trevos recém serão semeadas e, conseqüentemente,
estarão em condições de serem pastejadas a partir de maio.
Assim, sugere-se semear as gramíneas forrageiras anuais de verão
como o capim italiano ou milheto e o sorgo forrageiro que são as
forrageiras anuais de verão mais comuns no sul do Brasil, pelo
potencial de produção, rápido estabelecimento e bom valor
nutritivo. Apesar do custo relativamente elevado de
estabelecimento, por serem anuais, podem ser lucrativas como
pastagens bem manejadas para ovinos, novilhas de reposição,
engorda intensiva de bovinos e, principalmente na produção
leiteira. Além do desejável pastejo, podem ser destinadas à
elaboração de silagem ou fornecido direto no cocho para bovinos
confinados ou vacas leiteiras.
Para reduzir o custo de produção de leite e outros produtos
nobres derivados de ruminantes, deve-se usar o máximo possível
de alimentos vindo de pastagens bem manejadas. Portanto, o
agropecuarista deve planejar com o seu assistente técnico, as
pastagens necessárias para forragear os animais o ano todo.
Nesse processo, deve-se buscar quantidade de forragem com
elevado valor nutritivo, bem distribuídas ao longo do ano, para
privilegiar o consumo à campo, buscando alta eficiência
traduzida em ganho líquido por área.
O planejamento forrageiro para vacas de leite em nossa região
inclui, normalmente, variedades de capim italiano e de sorgos.
As duas espécies são forrageiras de máxima ótima eficiência
produtiva durante a primavera e início de verão, mas de ciclo
produtivo curto, resumindo-se muitas vezes a somente em torno de
90 dias de pastejo, principalmente devido a uma única época de
semeadura, reduzidas fertilizações, especialmente nitrogenada e,
do manejo em corte ou pastejo inadequado. O recomendado em
sistema de pastoreio rotacionado é iniciar o pastejo dessas
forrageiras anuias de verão quando as plantas atingem entre 60 e
80 cm e retirá-los da área quando as plantas atingirem cerca de
20 cm de altura em relação a superfície do solo (altura de
resteva). O sorgo deve, obrigatoriamente, ser pastejado com
altura superior a 50 cm, pois se pastejado muito jovem, altura
de planta inferior a 50 cm, pode ser tóxico. Os sorgos têm graus
variados de concentração de “durrina”, alcalóide nitrogenado,
precursor do ácido cianídrido, que pode ser letal aos animais.
Assim sendo, o pastoreio com lotação rotacionada, com alta carga
animal (lotação instantânea alta) e curto período de pastejo, se
possível um dia apenas por potreiro, seguido de adubação
nitrogenada e período de repouso suficiente para a planta
rebrotar rapidamente. Com boa fertilização e disponibilidade
hídrica, pode significar pastejo a cada 3 semanas. Assim, o
capim italiano e o sorgo forrageiro têm o mesmo manejo e podem
permitir vários ciclos de 3 a até 8 pastejos, durante uma
estação de crescimento de setembro/outubro até abril/maio.
Quais a vantagens de semear em mais de uma época?
A semeadura dessas gramíneas anuais de estação quente na região
do Planalto e Missões do Rio Grande do Sul pode iniciar em
setembro (Missões) e estender-se até início de fevereiro, quando
visa-se produzir forragem durante o conhecido vazio forrageiro
outonal (abril-maio), período de grande escassez de forragem de
bom valor nutritivo. Nesses meses, as pastagens perenes de
estação quente apresentam baixo valor nutritivo e as forrageiras
anuais de estação fria ainda estão sendo estabelecidas. Em Passo
Fundo, Rio Grande do Sul, em trabalhos liderados pelo autor na
Embrapa Trigo, híbridos comerciais de sorgo, capim sudão (aveia
de verão), variedades de milheto e teosinto (dente de burro)
semeados em fevereiro, produziram 6.000 kg de forragem seca por
hectare, com 17,8% de proteína bruta (PB), 60% de nutrientes
digestíveis totais (NDT), 40% de fibra em detergente ácido (FDA)
e 60% de fibra em detergente neutro (FDN). Quanto mais cedo na
primavera for possível estabelecer com sucesso as forrageiras
anuais de verão maior será a quantidade potencial de forragem
produzida, mas concentrada no final de primavera e início de
verão. O cenário comum são pastagens de sorgo e capim italiano
mal fertilizadas, especialmente pouco nitrogênio, quando
degradam-se no meio do verão, final de janeiro a meados de
fevereiro, porém quando semeia-se parte da área cedo e após, a
cada 3 a 4 semanas de intervalo, é possível distribuir melhor a
forragem produzida e com melhor valor nutritivo. Dessa maneira
pode-se dispor de forragem de gramíneas anuais de verão até o
advento das primeiras geadas.
Para finalizar e resumir, reforça-se que embora variedades e
híbridos de sorgo forrageiro e milheto têm potencial de produzir
mais de 15.000 kg de biomassa seca por hectare quando semeados
cedo, na primavera, e que a medida que retarda-se a semeadura
diminui esse potencial de produção, é indispensável a semeadura
escalonada até meados do verão para melhorar a distribuição de
forragem de bom valor nutritivo até a ocorrência das primeiras
geadas, no outono/inverno. Quando citou-se 6.000 kg de massa
seca por hectare, parece pouco, cerca de 40% do potencial das
espécies, entretanto convém lembrar que as forrageiras anuais de
inverno, aveia preta, azevém e mesmo as novas cultivares de
trigo de duplo propósito, para pastagem e grãos, produzem essa
quantidade durante todo o ciclo produtivo do outono a primavera. |
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