Brasília, Brasil
February 27, 2008
Banco de sementes na Noruega
tem capacidade para conservar quatro milhões e meio de amostras
a longo prazo.
A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa foi uma das instituições brasileiras
convidadas a participar do Banco Global de Sementes de Svalbard,
na Noruega, enviando amostras de sementes para conservação a
longo prazo. O banco genético da Empresa, localizado em uma de
suas unidades de pesquisa, a Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, em Brasília, DF, é hoje o maior do Brasil com
mais de 100 mil amostras de cerca de 400 espécies vegetais de
importância sócio-econômica.
O convite do governo do Reino da Noruega foi feito em outubro de
2007 e, segundo o Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, José Manuel Cabral, há interesse da Embrapa em
participar da iniciativa européia, especialmente por questões de
segurança. “O banco norueguês é o mais seguro em termos físicos
e ambientais”, explica Cabral. Além de estar situado dentro de
uma montanha na cidade de Longyearbyen, o Banco foi construído
com total segurança para resistir a catástrofes climáticas
(enchentes terremotos, aquecimento gradual, etc.) e até mesmo a
uma explosão nuclear.
Por isso, é uma oportunidade muito positiva para a Embrapa
manter uma cópia de algumas de suas amostras de sementes. Hoje,
as sementes conservadas pela Empresa estão armazenadas em
câmaras frias a 20ºC abaixo de zero na Unidade de Brasília. “A
possibilidade de duplicá-las e enviá-las ao banco de Svalbard é
mais uma garantia de segurança de que as espécies não serão
perdidas”, afirma o Chefe-Geral.
Definição para selecionar o material a ser enviado
No momento, a Embrapa está analisando as condições legais do
contrato de cooperação com o governo da Noruega, especialmente
no que se refere ao acesso ao patrimônio genético brasileiro. Um
dos maiores interesses é enviar para o banco sementes de
espécies nativas do Brasil embora haja interesse, também, em
enviar amostras de espécies que não sejam nativas, mas que foram
adaptadas às condições brasileiras e que vêm sendo cultivadas há
muito tempo, as chamadas variedades crioulas. “Mas essas são
exatamente as que mais requerem cuidado em relação à legislação
brasileira. Por isso, a questão precisa ser avaliada com
cautela”, explica Cabral.
Espécies de importância para a alimentação do povo brasileiro,
como milho, feijão e arroz, entre outras, também serão enviadas
ao banco nórdico, mas é preciso respeitar os requisitos exigidos
pelo governo norueguês, como por exemplo, o fato de o banco não
poder conter amostras repetidas. Por isso, antes de selecionar o
material a ser encaminhado, é preciso saber o que os outros
países já mandaram. É necessário, também, que as sementes tenham
grande viabilidade e estejam livres de doenças e insetos e que
tenham a capacidade de manter o nível de germinação por, pelo
menos, dez anos.
O Chefe-Geral acredita que até o final deste ano, a Embrapa
consiga enviar o material para a Noruega.
“Temos todo o interesse nessa cooperação, já que representa mais
segurança para a conservação da diversidade genética vegetal,
mas primeiro temos que analisar com cuidado as condições do
contrato, de acordo com o que prevê a legislação brasileira”,
explica Cabral. Além disso, as sementes terão que ser replicadas
e embaladas, o que também demanda tempo.
O novo banco de sementes
A nova caixa forte norueguesa tem capacidade para quatro milhões
e quinhentas mil amostras de sementes. O conjunto arquitetônico
tem concepção única e foi feito para garantir a segurança física
dos materiais armazenados. O Banco Global de Sementes conta com
três câmaras de segurança máxima situadas ao final de um túnel
de 125 metros dentro de uma montanha em uma pequena ilha do
arquipélago de Svalbard.
As sementes serão armazenadas a 18 graus Celsius abaixo de zero
em embalagens hermeticamente fechadas, guardadas em caixas
armazenadas em prateleiras. O depósito está rodeado pelo clima
glacial do Ártico, o que assegura que a temperatura permanecerá
muito baixa, mesmo no caso de falha no suprimento de energia
elétrica. As baixas temperatura e umidade garantem a baixa
atividade metabólica, mantendo a viabilidade das sementes por um
milênio ou mais. Por exemplo, as de cevada podem durar 2.000
anos; de trigo 1.700 anos e de sorgo cerca de 20 mil anos.
Segundo informações oficiais dos responsáveis pelo Banco, no dia
da inauguração, já estavam depositadas 676 caixas contendo 268
mil amostras provenientes de vários países da Europa, Ásia,
África e América do Sul. Como o Banco não deseja receber
amostras repetidas, as amostras depositadas podem ser
consideradas “únicas”, e essa característica torna cada amostra
importante para da conservação futura da variabilidade das
espécies vegetais.
Importância da conservação
Para ilustrar a importância da conservação de sementes a longo
prazo, o banco genético da Embrapa já ajudou no enriquecimento
alimentar de povos indígenas e pequenos agricultores no Brasil.
Das câmaras geladas de conservação saíram, por exemplo, sementes
de milho e amendoim que foram devolvidas ao povo indígena Krahô,
no Tocantins, em 1995. Eles não tinham mais as sementes
primitivas e não estavam se adaptando às variedades comerciais.
Essa interação levou a uma parceria que dura até hoje.
Da mesma forma, no início dos anos 2000, pequenos agricultores
de Alto Paraíso, em Goiás, procuraram a Embrapa em busca de
sementes de uma variedade de trigo altamente produtiva à região
e que já havia desaparecido. As sementes de trigo veadeiro foram
entregues ao grupo e hoje já são amplamente plantadas por
produtores locais.
Fernanda Diniz,
Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia |
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