Brazil
July 31, 2008
Casiane Salete Tibola
Pesquisadora da Embrapa
Trigo
Em
um mercado globalizado e altamento competitivo, estratégias para
a diferenciação de produtos tem sido cada vez mais priorizadas,
visando agregar valor, reduzir as perdas ao longo da cadeia
produtiva e manter ou ampliar a participação no mercado. O setor
de grãos, tradicionalmente caracterizado por commodities está
cada vez mais orientado para a diferenciação de produtos e para
a segmentação de mercado, com o objetivo de preservar suas
características e assegurar a homogeneidade. O mercado de grãos
diferenciados está se expandindo, as indústrias apresentam novas
demandas para a preservação da identidade, a segregação e a
rastreabilidade dos produtos, visando atender o mercado
consumidor cada vez mais exigente. Como exemplos podem ser
citados, milho com alto teor de óleo, soja não transgênica,
cereais com maior teor de proteína. A segregação de acordo com
aptidão tecnológica consiste em diferenciar os produtos -
descommoditizar, atendendo a necessidades específicas de
mercado.
A triticultura é um setor no qual a comercialização de produtos
diferenciados favorece a qualificação, considerando que podem
ser segregados lotes de acordo com a classe comercial, o peso
hectolítrico, o número de queda, entre outros parâmetros que
definem a aptidão tecnológica e a qualidade. Esses parâmetros
apresentam considerável variabilidade de acordo com a cultivar,
as condições climáticas e a região produtora. A segregação
possibilita agregar valor ao trigo nacional favorecendo a
minimização das perdas, devido ao melhor planejamento da
produção, desde a escolha da cultivar até a definição de lotes
no armazenamento e na comercialização. Além disso, poderá
colaborar para o incremento da competitividade e para a redução
da dependência, frente aos produtos importados, que representam
atualmente mais da metade do consumo interno.
De acordo com a Instrução Normativa nº 7, de 15/8/2001, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que
contempla o Regulamento Técnico de Identidade e de Qualidade do
Trigo, o trigo pode ser classificado em cinco categorias,
definidas de acordo com determinações analíticas de força de
glúten e de número de queda: Trigo Brando, Trigo Pão, Trigo
Melhorador, Trigo para outros usos e Trigo Durum. As cultivares
de Trigo Brando são indicadas para produção de produtos de
confeitaria, biscoitos doces, pizzas e massa tipo caseira
fresca; as cultivares de Trigo Pão são indicadas para produção
de massas alimentícias secas, biscoitos tipo “cracker” e
panificação industrial; os genótipos de Trigo Melhorador são
aptos para misturas com cultivares de trigo brando, para fins de
panificação, produção de massas alimentícias, biscoitos tipo
"crackers" e pães industriais; o Trigo para outros usos é
destinado para a alimentação animal; e o Trigo Durum da espécie
Triticum durum L. é indicado para a produção de massas
alimentícias secas.
Para facilitar a segregação dos lotes de trigo e possibilitar a
regionalização da produção, a exemplo de outros países
produtores, a seleção das cultivares a serem semeadas em
determinada região produtora deverá ser planejada
antecipadamente. Cada empresa ou cooperativa deverá selecionar
as cultivares que são melhor adaptadas na região produtora e
aquelas com maior potencial de demanda. Dessa forma, através de
cultivares com a mesma aptidão tecnológica, é possível obter
maior similaridade, possibilitando a formação de lotes
homogêneos, mesmo nos silos para grandes volumes, disponíveis
para o armazenamento de grãos.
Projetos como a produção integrada de trigo, fomentam parcerias
entre agentes da cadeia produtiva, visando maior segurança na
comercialização para os produtores e a disponibilidade de
produtos de acordo com as especificações requeridas pelos
moinhos e indústrias. Como exemplo, no projeto produção
integrada de trigo, na safra 2007, foram segregados lotes de
trigo de acordo com as seguintes características de interesse:
uma cultivar da classe pão, com coloração de farinha amarela,
que foi destinada para fabricação de massas alimentícias; e
outra cultivar pão com farinha 'branqueadora' que foi utilizada
na indústria de panificação. Os resultados obtidos nas
cooperativas permitiram destacar os principais benefícios do
projeto-piloto que foram a liquidez na comercialização e o
incremento no valor agregado, resultando em prêmio pelos lotes
de trigo segregado. Na industrialização, a segregação de Trigo
Pão com farinha amarela possibilitou a fabricação de massas
alimentícias com a coloração natural, dispensando o uso de
corante, melhorando a aparência do produto após o cozimento.
Além disso, os lotes de trigo homogêneo, proporcionaram melhor
rendimento na moagem e melhoria na qualidade reológica da
farinha, dispensando misturas para obter as características
demandadas pela indústria.
Para distinguir produtos no mercado, é fundamental a
implementação da rastreabilidade, conferida através de registros
de todas as etapas que definem a qualidade e a inocuidade,
possibilitando a disponibilização de informações que
caracterizam cada lote, informando o consumidor sobre os
atributos diferenciais do alimento. A rastreabilidade é
requisito fundamental de todos os sistemas de gestão da
qualidade, como a Produção Integrada, APPCC (Análise de Perigos
e Pontos Críticos de Controle), ISO (International Organization
for Standardization). Esses programas permitem a diferenciação
do produto perante o mercado, facilitando sua comercialização e
conquistando a fidelidade do consumidor pela garantia da
segurança dos alimentos, respeito ao meio ambiente e atendimento
aos requisitos sociais. A rastreabilidade funciona como um
complemento na gestão da qualidade, estabelecendo, uma estreita
relação de comunicação e confiabilidade, entre a cadeia
produtiva e os consumidores.
A seleção de cultivares, o planejamento do recebimento e do
armazenamento e a implementação de sistema de rastreabilidade,
possibilitam a segregação de lotes de trigo, agregando valor aos
produtos diferenciados e atendendo demandas de mercados
específicos. Para potencializar a obtenção de resultados
positivos nesse trabalho, que envolve ações integradas com a
participação de toda a cadeia produtiva, é fundamental o
comprometimento e a participação efetiva do setor, na seleção de
características de interesse, na escolha de cultivares e no
comprometimento para a comercialização. Dessa forma, estratégias
de segregação de produtos com características diferenciadas
proporcionam a minimização nas perdas e o incremento na
qualidade dos produtos, viabilizando e remunerando toda a cadeia
produtiva.
Casiane Salete Tibola é Eng. Agr.ª Dr.ª Pesquisadora da
Embrapa Trigo – Área: Controle de qualidade, certificação e
rastreabilidade. |
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