Brazil
September 16, 2008
Document Actions A observação dos
hábitos alimentares espontâneos dos animais nas áreas secas do
Nordeste tem levado à identificação de plantas com potencial
forrageiro para cultivo pelos agricultores. É assim com a
Pustumeira (Gomphrena sp.), uma espécie de arbusto que
chamou a atenção do pesquisador Francisco Pinheiro de Araújo, da
Embrapa Semi-Árido, por se destacar com um verde “exuberante”
numa paisagem em que a vegetação se encontrava já totalmente
seca em municípios do sudoeste da Bahia.
A observação do pesquisador foi acentuada pelo local onde as
plantas de pustumeira vegetavam: uma encosta de estrada com solo
cheio de pedregulhos e de baixa fertilidade. Levada para análise
no Laboratório de Nutrição Animal, constatou-se outra qualidade
importante em uma planta forrageira: altos níveis de proteína na
folha (22,6%) e caule (13%). A espécie ainda é muito palatável,
o que significa dizer que os animais consomem sem qualquer
dificuldade, pastejando diretamente no campo, explica Pinheiro.
Perene
Identificar plantas com essas características na rica
biodiversidade da caatinga contribui para estabelecer manejos
sustentáveis de atividades agrícolas fundamentais na região, a
exemplo da criação caprina e ovina. Bem adaptada aos rigores
climáticos do semi-árido, a pustumeira pode ser implantada em
áreas já desmatadas e que estão em descanso nas propriedades.
Na Embrapa Semi-Árido, a espécie está num processo de
domesticação. Os pesquisadores e técnicos realizam vários testes
de campo em diferentes ambientes e em laboratórios a fim de
estabelecer a melhor maneira de seu uso nos sistemas de produção
pecuário no sertão nordestino. A disponibilidade de uma forragem
com os níveis nutricionais e a resistência à seca dessa espécie
nativa, aumenta a capacidade de suporte dos animais nas
propriedades.
Os resultados já obtidos nos testes animam o pesquisador a
estimular o plantio pelos agricultores. Segundo ele, já se sabe
que a melhor maneira de cultivo é por meio de mudas que pode ser
feita de modo bem simples, em sacos plásticos. Um galho tenro
(ainda verde) com 15 cm de comprimento e pelo menos quatro gemas
(locais de onde sairão novos galhos) é o bastante para o plantio
nos sacos. A brotação e a formação de raízes ocorrem após 35
dias. Sessenta dias depois, as mudas estarão prontas para serem
levadas ao campo. O ideal é que este período coincida com o
início das chuvas.
Colheita
A primeira colheita já pode ser feita cerca de 6-7 meses após o
plantio. Neste momento, é comum a vegetação da caatinga se
encontrar em adiantado estado de seca. Em apenas hum hectare,
sob o espaçamento de 1,0 m nas linhas e 0,5 m entre as plantas é
possível colher até 5 toneladas de matéria seca. “É uma produção
muito boa” para uma espécie rústica que pode ser cultivada nos
mais variados tipos de solo da região semi-árida, especialmente,
nas áreas de pousio, além de apresentar a vantagem de ser uma
espécie perene.
A reunião das características de ser uma espécie altamente
palatável, tolerante à seca, com potencial produtivo e
nutritivo, torna a pustumeira uma importante alternativa para
cultivo pelos agricultores familiares nas áreas dependentes de
chuva. Por essas qualidades, pode ser usada como banco de
proteínas, com pastejo direto de apenas duas horas por dia, ou
ser utilizada nas formas de feno e silagem. |
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