Brazil
August 18, 2014
A ameaça de bioterrorismo pela utilização de armas biológicas de destruição em massa parece assunto de ficção científica, mas é uma realidade que preocupa cientistas de todo o mundo. O assunto foi um dos temas de destaque do 47° Congresso Brasileiro de Fitopatologia, que ocorre de 17 a 22 de agosto, no Centro de Eventos de Londrina (PR), em uma promoção da Universidade Estadual de Londrina, do Instituto Agronômico do Paraná e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja).
A fitopatologia como ferramenta contra o bioterrorismo foi abordada pelo professor Michael Boehm, da Universidade de Ohio (EUA). Segundo ele, o bioterrorismo vem causando maior preocupação mundial depois do atentado de 11 de setembro, em 2001, mas a prática é antiga e recorrente na história da humanidade. O cientista exemplifica dizendo que mesmo há 300 anos antes de Cristo, assírios e persas propagavam doenças contaminando a água, os espanhóis infectaram índios distribuindo cobertores com varíolas e nas duas grandes guerras mundiais também se recorreu a estes métodos de violência. "Se uma bomba é ruim, um ataque biológico é devastador", reforça.
No caso da agricultura, Boehm diz que a produção mundial de grãos migra com facilidade entre as nações, no entanto, nem sempre há uma inspeção fitossanitária adequada. "A taxa de amostragem para análise fitossanitária de produtos importados, segundo o departamento de agricultura americano (USDA), atinge cerca de 5% do volume", ressalta. Apesar de baixa, o pesquisador diz que existem modelos de análise de risco que indicam, de forma precisa, onde fazer a amostragem, conforme o problema fitossanitário de origem.
Para Boehm, a barreira fitossanitária pode interferir no comércio internacional, o que tem estimulado os países a criarem listas com os principais patógenos presentes em seu país. Estas listas funcionam como estrategia de negociação nos acordos entre os países.
O professor Gonçalo Amarante Pereira, da Unicamp, abordou durante o simpósio de bioterrorismo o caso da vassoura de bruxa na cultura do cacau. Para ele, a introdução de doenças pode ocorrer por ignorância, quando, por exemplo, se leva uma fruta de uma região para outra e dentro dela há doenças que podem carregar fungos, bactérias ou outros patógenos. "Mas também há políticas de governos que introduzem doenças em outras regiões, como forma de competição para alterar o mercado e se beneficiar", destaca.
Segundo Gonçalo, o Brasil não tem dado a devida atenção a questões biológicas para manter a sanidade agropecuária e limitar o trânsito de pessoas em áreas de culturas agrícolas. "O Brasil precisa levar isso mais a sério", defende. "É importante que todos os envolvidos com as cadeias produtivas se organizem quando há relatos de doenças agrícolas ameaçadoras. Precisamos nos preparar, o que significa investir em tecnologia", ressalta.
47º Congresso Brasileiro de Fitopatologia