home news forum careers events suppliers solutions markets expos directories catalogs resources advertise contacts
 
News Page

The news
and
beyond the news
Index of news sources
All Africa Asia/Pacific Europe Latin America Middle East North America
  Topics
  Species
Archives
News archive 1997-2008
 

Agrônomo fala de soja da Embrapa resistente a nematoides


Brazil
January 21, 2015

Lançada em 2014 pela Embrapa Cerrados e as Fundações Cerrados e Bahia, a cultivar de soja BRS 7980 começa a ser conhecida e cultivada por produtores do Cerrado brasileiro. O material apresenta múltipla resistência aos principais nematoides que afetam a produção brasileira de grãos e pastagens, como o nematoide de cisto Heterodera glycines (raças 1, 3 e 5), os nematoides de galha Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita, além de ser tolerante ao Pratylenchus spp., nematoide que provoca lesões radiculares e de ocorrência crescente nas lavouras do Brasil Central.

Em visita à Fazenda Chimarrão, em Água Fria de Goiás (GO), no início de janeiro, os pesquisadores da Embrapa Cerrados Sebastião Pedro e André Pereira, acompanhados pelo responsável técnico da propriedade, Luciano Frozza, percorreram uma área de pivô, sabidamente infestada por nematoides, em que foi plantada a nova cultivar da Embrapa.

Depois de avaliarem o desempenho do material, eles conversaram com o engenheiro agrônomo Marcelo Ribas de Andrade, sócio do Germinar, laboratório de Rio Verde (GO) especializado em análises de sementes, solo, sanidade e nematoides. Nesta entrevista, Andrade fala de suas impressões sobre nova cultivar da Embrapa, o problema dos nematoides nas lavouras do Cerrado, os desafios da qualidade da semente e a questão da sustentabilidade da produção.

O que você observou na área plantada com a BRS 7980?

Só fui saber que tinha nematoides na área que vimos porque me falaram (risos). No caso do Pratylenchus, em que há uma desuniformidade de plantas, praticamente você não vê. Para Meloidogyne, que são reboleiras, também não vimos nada. E para o (nematoide de) cisto também. Ela (lavoura) está numa fase avançada e no talhão a gente não percebe sintomas dele na cultivar.

E a lavoura está produzindo...

A expectativa é a máxima produção ali, pelo menos é a opinião que tenho. Só pondo a colheitadeira para saber.

Você já tinha visto esse material em outras fazendas?

Tinha visto em um Dia de Campo em Rio Verde. E me chamou a atenção a questão da resistência a nematoide. Não lá especificamente, porque a área não tinha nematoide.  Mas a característica (de resistência) para nematoide, em minha opinião, é essencial para o Cerrado.

Conhece algum material com esse desempenho e essa multiplicidade de resistências?

Trabalhei um pouco com nematoides e com produtos para o controle de nematoides. A gente ainda não tem uma identificação do nível do problema na área, ou numa área específica. Mas já trabalhei com cultivares que têm certa tolerância a nematoides, e ainda vemos respostas de produtos que tenham efeito de proteção para nematoides. Mesmo em cultivares que teoricamente teriam uma boa resposta, e acredito que até tenham, em nenhuma você consegue ver que ela não sente a presença do nematoide. Isso tem sido uma preocupação muito grande do produtor a partir do ano passado, justamente em função da deficiência hídrica que estamos tendo.

Em anos de seca, os nematoides aparecem mais que em anos de chuva...

Muito mais. Neste ano, em áreas com nematoides, tenho absoluta certeza de que o produtor não consegue quantificá-los e nem saber o quanto está perdendo. Ele não consegue perceber visualmente.

Isso está acontecendo especificamente nesta safra, em que a chuva demorou a começar, e agora estamos passando por um veranico...

Exatamente. No laboratório, fazemos análises para nematoide, e tem muitas empresas que fazem agricultura de precisão e começaram a fazer o trabalho de mapeamento de nematoides. Não são mais aquelas coletas em que a pessoa vê a mancha (na lavoura), leva uma amostra para o laboratório e com certeza vai encontrar o problema, porque ela foi ao problema. Hoje está sendo feito o mapeamento. Não estou querendo potencializar o problema, mas o que a gente percebe é que ele está se agravando em todo o Cerrado. Não sei se a gente se esqueceu de trabalhar com cultivares mais tolerantes. Vejo o milho como principal fator à redução de nematoides, mas existem milhos multiplicadores e redutores. Se o produtor não tem essa informação, ele pode, pensando em utilizar milho para tentar hipoteticamente reduzir (o nível de) nematoide, estar favorecendo-o, principalmente o Pratylenchus. Tanto isso é verdade que eu nunca vi tanta gente falar de crotalária e levar ao laboratório para analisarmos. O uso dos agroquímicos é paliativo, resolve o problema na hora, mas depois... E o custo é elevado. Nos levantamentos que vi, (a produtividade) chegava a dar quatro, cinco sacos a mais de soja por hectare. Acredito que em áreas mal manejadas, de 5% a 10% da queda de produtividade pode estar relacionado a nematoides.

No Cerrado, a preocupação era grande com o nematoide de cisto, e o de galha não era tão importante. Agora, nematoides de cisto, de galha e o Pratylenchus estão ocorrendo praticamente juntos. Como você tem visto, em sua região de atuação, a prevalência de um ou de outro?

O Pratylenchus hoje está presente em todas as áreas, em todos os tipos de textura e de fertilidade do solo. Ele se encontra em solos mais pesados, com textura argilosa, até solos com textura mais arenosa. Por onde a gente roda e pelo que recebemos no laboratório, percebemos o Meloidogyne em solos mais argilosos. É difícil vê-lo em solos arenosos no Sudoeste goiano. Isso significa que pode haver outras espécies. Não está bem clara a questão de raças para Meloidoyne e Pratylenchus. Na literatura, a gente não vê algo que respalde uma recomendação.

O milho multiplica Meloydogine...

Acho que ainda existe pouca informação, inclusive por parte das empresas, quanto ao fator de reprodução (de nematoides) com relação às cultivares de milho.

E a quantificação do fator de reprodução do Pratylenchus não é muito fácil...

O que se fala da questão de resistência e tolerância está muito voltado à fisiologia da planta, a como o nematoide penetra nela e se desenvolve. Por haver ainda a questão de se conhecer a fundo a fisiologia, é preferível trabalhar com a tolerância. Tolerância é convivência. Estamos hoje muito mais para a tolerância que para a resistência.

A resistência seria uma garantia?

É uma garantia. Só que isso, no melhoramento genético, é uma característica vertical que pode ser quebrada, desde que apareça uma raça diferente que possa quebrar esse tipo de resistência. Então é preferível trabalhar com tolerância, que seria uma resistência horizontal, em que há os sintomas e a presença (do nematoide), mas a planta consegue conviver.

No Sudoeste goiano, o que está prevalecendo em termos de nematoides?

Primeiro é o Pratylenchus. Dependendo do nível de fertilidade do solo, se for um ano chuvoso, há um sintoma inicial e depois, conforme for, se houver uma boa condição de desenvolvimento, a planta consegue superar e, certamente, com 30 a 35 dias você já não vê mais sintomas. Se as condições não forem normais, e hoje temos cultivares com hábito (de crescimento) indeterminado que já estão florescendo com 30 dias, e (as plantas) permanecerem por mais 10 dias, elas vão até o final do ciclo com os sintomas, e não se recuperam mais. Quase não ouvíamos falar do nematoide de cisto, só no Mato Grosso. E hoje você vê bastante problema com ele e muita preocupação. Como na região de Rio Verde, onde ele não era problema. Na verdade, quando se trabalha uma cultivar buscando o controle de nematoides não se pode pensar em Pratylenchus ou outro. Hoje você tem que pensar em todos. Essa é uma dificuldade, e é por isso que acredito na tolerância, na resistência vertical.

Qual a sua percepção sobre a BRS 7980 do ponto de vista de qualidade de semente?

Neste ano começamos a fazer na Fazenda Chimarrão um trabalho de certificação. Nesse trabalho, você faz algumas visitas e o acompanhamento da colheita. Talvez o produtor tenha uma visão melhor que a minha. Estou no laboratório e vejo a fase final lá. Mas um ponto de discussão para o Centro-Oeste é que apesar de sabermos o quanto algumas outras características são muito mais prioritárias para o produtor, como a produtividade, tem o problema da shelf life, que é o tempo de prateleira de uma cultivar. Não temos atualmente problemas de produção de semente, como se falava em Goiás. O que temos são condições adversas para armazenar a semente. E hoje existe uma grande quantidade de cultivares que às vezes se adaptam a essas condições mais difíceis de armazenagem e outras que não têm essa longevidade que a gente precisa para o Centro-Oeste.

Isso não é levado em conta no lançamento da cultivar...

Não é levado em conta. Mas eu digo que no milho isso é chave. Se não tiver essa característica no milho, (a semente) não vive. E na soja, como a produtividade hoje impera em termos de melhoramento (genético), algumas outras características têm sido deixadas para trás, principalmente nos materiais que vêm de fora.

As cultivares tolerantes a nematoides são essenciais, mas são apenas uma parte do sistema, devem estar junto com outras medidas...

Isso se chama agricultura sustentável. Você vê produtores cujo caminho, infelizmente, é um só: largar a agricultura. Porque eu ando aqui, vejo uma soja. Saio daqui, ando um quilômetro, e vejo outra soja. A agricultura virou uma empresa. Quem pode, pode, quem não pode, sai do negócio. Mas na hora em que começarem a surgir comercialmente, em volumes representativos (de cultivares resistentes a nematoides), a coisa muda. É que tudo o que temos hoje é ‘canela seca' (materiais sem resistência a nematoides).

Antigamente, nem se falava que o material tinha resistência, mas o produtor ia plantando e percebendo essa característica...

Quando se fala disso (resistência a nematoides) num material, muita gente vai querer conhecê-lo. Da parte de sementes, então, vejo dois pontos importantes: shelf life, ou seja, cultivares com tempo de prateleira longo, e a questão do nematoide. É lógico que produtividade não se discute. Mas talvez o ciclo (da cultivar), que hoje é muito importante em algumas regiões, em determinadas situações vá perder importância. Na cabeça do produtor, o que garante rentabilidade é o verão. Por que é difícil entrar a rotação de culturas, a crotalária? Giro de caixa. Agora, se eu produzir, digamos, 10%, 15% a mais numa safra... Por que não posso deixar de plantar milho para plantar sorgo? Vou diminuir a rentabilidade, mas no global eu diluo isso. Só que essas coisas têm que ser feitas na ponta do lápis. Isso seria interessante para a Embrapa: trabalhar com a análise de rentabilidade e medir isso. Eu vim do Sul do País quando nasceu o plantio direto e a produtividade começou a ser a meta de todo produtor, independente do custo. Hoje, o pensamento lá é diferente. Vou produzir tanto, mas vou me arriscar quanto no mercado?

Hoje, é muito bonito alguém falar que produziu 80 sacos por hectare, e talvez tenham sobrado cinco sacos. E outro produtor produziu 55 sacos por hectare e sobraram 15...

O Centro-Oeste se fez por aventureiros, com aquela visão imediatista. Mas o que aconteceu no Sul talvez já esteja acontecendo aqui. É o pensamento da sustentabilidade: eu não vim aqui para, daqui a pouco, ir mais para cima (norte) para ganhar mais e ganhar no volume. É a maturidade do mercado, um processo que talvez a gente já esteja começando a viver. Acredito que hoje estamos chegando a um nível de produção igual ao do Sul do Brasil, com produtividades muito boas, como as de lá. As cultivares têm mudado, têm vindo com outras características que agregaram, como a safrinha e materiais de ciclo mais precoce. Mas teremos limitações de outras coisas que eram características do Cerrado – e que não são no Sul – e não conseguimos resolver. Nematoide hoje é um dos pontos que mais preocupam a assistência técnica e mais levam à pesquisa, porque é impactante e crescente.

Estamos vivendo duas fases simultâneas. Uma é a agricultura se tornando um modelo empresarial e a segunda é a sucessão. Hoje, no Cerrado, é difícil encontrar a terceira geração de agricultores nos mesmos moldes da segunda geração.

Vejo que essa geração subsequente tem a cabeça mais aberta. Talvez não tenha passado pelas dificuldades que a primeira geração passou. Os filhos querem qualidade de vida. Podem até morar na fazenda, mas trazem o conforto da cidade.



More news from: EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Website: http://www.embrapa.br

Published: January 21, 2015

The news item on this page is copyright by the organization where it originated
Fair use notice

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

  Archive of the news section

 

 


Copyright @ 1992-2024 SeedQuest - All rights reserved