A Agricultura brasileira é dependente do uso de agrotóxicos, por isso, a sua utilização no país é tão crescente. Em contrapartida, o uso de controle biológico para combate a pragas e doenças é uma alternativa viável para manutenção de sistemas de produção sustentáveis, mas é preciso ter acesso as tecnologias e transferir o conhecimento desta prática, que sinaliza muitos benefícios como uma alimentação segura à população e uma qualidade de vida ao agricultor. Em busca dessas alternativas a Embrapa Clima Temperado em conjunto com a Universidade Federal de Pelotas abriram nesta terça-feira (20/10), o VII Congresso Brasileiro de Defensivos Agrícolas Naturais (Cobradan). O evento acontece nas dependências da Sede da Embrapa, na Cascata, BR 392, Km78. A programação se estende até esta quinta-feira(22/10) com a possibilidade de se conhecer o que há de mais novo em defensivos agrícolas sendo pesquisado no Brasil e no Exterior.

 

A grande temática durante o primeiro dia de encontro foi a apresentação da prospecção e seleção de agentes de biocontrole, moléculas e produtos naturais no manejo de insetos-pragas, doenças e plantas daninhas.

 

A palestra de abertura Estrategias de seleção de antagonistas microbianos a fitopatógenos trouxe a experiência holandesa da Universidade e Centro de Pesquisa de Wageningen, através de Jurgen Kohl, que  mostrou projetos europeus que vem dando certo na área de controle biológico, aplicados a cultivares de vegetais e frutas, e ainda, culturas de cereais, como o projeto Biocomes.

 

Na sequência, a professora do Instituto de Ciências Agrárias de Madri/Espanha María Fe Andrés Yeves apresentou vários trabalhos espanhóis com uso de plantas aromáticas, através dos óleos essenciais, em sua palestra Prospecção de produtos naturais para o controle de fitonematoides, aplicados em sua maioria à horticultura. Para ela, houve uma inversão nos estudos científicos em relação ao combate de doenças e pragas. "Antes, a Ciência buscava compostos químicos, hoje, há uma procura por compostos ativos de origem botânica (as plantas)", analisou María Fe. "Cultivamos uma cartela de plantas de forma experimental -  algumas plantas da Espanha como mentha, lippia, satureja, hyssopus e thymus - e temos a identificação de três mil plantas, onde são usados seus óleos essenciais. Desse número, 300 plantas já são comercializadas para indústria farmacêutica, cosmética, agroquímica e de higiene e limpeza", falou María Fe. Segundo a professora, há vantagens no seu uso como a apresentação de baixa toxicidade em mamíferos e ao meio ambiente e como desvantagem a sua persistência é limitada. Como desafio, María Fe entende que é preciso melhorias no processo de aplicação dos produtos, com técnicas de microencapsulação para evitar a degradação e a evaporação e proporcionar uma liberação controlada. Ela apresentou novidades com outras linhas de pesquisa como a valorização de resíduos obtidos na produção de óleos essenciais.

 

Já a palestra sobre a Prospecção e produção de parasitoides no controle de lepidopteros-pragas em culturas anuais e hortaliças, trouxe a experiência da professora da Unesp de Botucatu/São Paulo, Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno que provocou a plateia do Congresso ao refletir que o uso abusivo do controle químico fez aumentar a população de pragas secundárias, entre vários exemplos, o surgimento da helicoverpa armígera, que foi tão combatida na safra 2014/2015 em todo o país. A professora defendeu o uso do controle biológico, afirmando que o Brasil tem tecnologia de qualidade para uso como defensivo agrícola natural. E entre as alternativas para controle de insetos-pragas, ela aposta no uso do parasitoide Trichogramma, um dos mais trabalhados no mundo. "Em 2014, foi liberado 250 mil parasitoides/ha em culturas diversas e em mais de 500 mil parasitoides/ha somente na cultura da cana-de-açúcar", lembrou como a pesquisa brasileira tem atuado na defesa agrícola. Mas, a representante da Unesp, disse que há alternativas de associação de mais de um parasitoide a outros como  um futuro promissor em experimentação no Brasil.

 

Durante o primeiro dia de Congresso, três pesquisadores da Embrapa, fecharam a programação: Fábio Sergio Paulino da Silva, da Embrapa Meio Ambiente, que falou sobre Descoberta de novas moléculas de actinomicetos com atividade herbicida; Aldomário Santo Negrissoli Junior, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, que falou sobre a Utilização de nematoides entomopatogênicos como bioinseticidas e Raul Porfírio de Almeida, da Embrapa Algodão, que discorreu sobre a Utilização, aplicação e perspectivas futuras de inseticidas botânicos no controle de insetos-praga. 

 

 

A cerimônia de abertura do VII Cobradan contou com a presença do chefe geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, do diretor-técnico da Emater/RS, Lino de Moura, do diretor executivo da Secretaria de Desenvolvimento Rural de Pelotas, Darci Oliveira Iacks, ao representar o prefeito Eduardo Leite e o secretário Carlos Bento, da diretora técnica da Fapeg, pesquisadora Rosa Lia Barbieri e do coordenador do Congresso, pesquisador Cesar Bauer Gomes.

 

O pesquisador Cesar Bauer Gomes fez uma retrospectiva do surgimento do Cobradan e sua trajetória ao longo do tempo ao mostrar a importância do evento para a agricultura brasileira. O diretor técnico da Emater/RS, Lino de Moura, falou da busca e defesa na produção de alimentos seguros e mais limpos como meta da extensão rural, por este fato, justificou a grande representatividade de extensionistas participantes, de muitas regiões de cobertura da Emater, no Congresso. O chefe geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, falou que o evento oportuniza espaço para dar respostas a uma sociedade que dá sinais claros de demandas e necessidades, que não são mais distantes, mas muito próximas. "Estamos vivendo, já, um momento de transição. Precisamos apresentar tecnologias agrícolas que atendam às condições de mudanças climáticas, de racionalização de custos de produção  - uma agricultura mais eficiente - e de produção de alimentos mais seguros para geração de qualidade de vida", pontuou Pillon.

  

Durante uma parte da programação do dia foram feitas apresentações de trabalhos científicos na forma de sessão poster junto ao saguão nas dependências da Embrapa. No primeiro dia foram visualizados 69 trabalhos que trataram de estudos nas áreas de Entomologia, Fitopatologia, Fitossanidade, Biorremediação e outros. Para o último dia do encontro, nesta quinta-feira (22/10) estão agendados a apresentação de mais 70 estudos científicos, também em sessão poster, que contemplam as áreas de Entomologia, Fitopatologia e Plantas Daninhas. Desta mostra científica, 30 trabalhos concorrem à premiação. No ato de encerramento do Congresso, a partir das 17h, os três melhores serão conhecidos e premiados.