June 25, 2025
Integrantes do CIMMYT em visita à Embrapa Trigo - Photo: Mércio Strieder
Pesquisadores do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT) estiveram no Brasil para discutir novas ações da parceria com a Embrapa na cultura do trigo. Com sede no México, o CIMMYT é uma organização sem fins lucrativos, considerada autoridade mundial no desenvolvimento genético de milho e de trigo. A parceria com a Embrapa prevê o intercâmbio de materiais genéticos em busca de plantas mais tolerantes às mudanças climáticas.
O desenvolvimento da triticultura no Brasil sempre contou com o apoio do CIMMYT. As primeiras cultivares trazidas do México foram introduzidas no Brasil na década de 1980 e serviram de base para os cruzamentos no programa de melhoramento genético de trigo da Embrapa e de outros obtentores brasileiros.
Na programação da visita, participaram três pesquisadores vinculados ao CIMMYT: Flávio Breseghello, diretor do Programa Global de Trigo; Pawan Kumar Singh, chefe do Departamento de Patologia em Trigo; e Guillermo Sebastián Gerard, pesquisador de melhoramento de trigo. Na Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS), os pesquisadores participaram de discussões sobre melhoramento genético e avanços na resistência a doenças, como giberela e brusone, além de resiliência à seca e ao calor. Pesquisadores de empresas privadas que atuam no desenvolvimento de cultivares de trigo, os chamados obtentores, também participaram da agenda. Em Brasília (DF), os pesquisadores estiveram na Embrapa Recursos Genéticos e na Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, além de conhecer experimentos da pesquisa e visitar produtores rurais.
Intercâmbio de material genético
De acordo com o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Trigo, Mércio Strieder, a parceria prevê que a Embrapa disponha de 1.500 acessos a coleções de material genético do CIMMYT. O germoplasma de interesse faz parte da “Nurseries Collections” do CIMMYT, um conjunto de genótipos com variadas resistências às principais doenças de ocorrência em trigo nos diferentes ambientes em cultivo no mundo. “A Embrapa não recebe material genético do CIMMYT desde 2012 devido à presença de pragas quarentenárias nos materiais disponibilizados. É um cuidado para evitar a entrada de novas pragas no Brasil. Agora, a expectativa é encontrar fontes de resistência a doenças para introduzir nas linhagens brasileiras, aumentando a variabilidade genética dos nossos trigos”, explica Strieder.
A Embrapa avaliará possíveis fontes de resistência genética às principais doenças, com previsão de trazer ao Brasil 54 genótipos para tolerância à giberela, 10 genótipos para brusone e mais de 500 genótipos com resistência à seca e ao calor. “Um exemplo é o avanço no combate à brusone. Grande parte das cultivares brasileiras já utiliza a translocação 2NS/2AS, obtidas através de cruzamentos do CIMMYT, como fonte de resistência do trigo à brusone. Contudo, o risco de quebra desta resistência exige antecipação da pesquisa em busca de novas fontes de controle da brusone”, afirma Strieder.
Outro objetivo do intercâmbio é estabelecer trabalhos de fenotipagem de material genético, por meio dos quais a Embrapa fará avaliação de variabilidade genética em 284 acessos do CIMMYT. O processo de fenotipagem prevê avaliar diferentes características agronômicas, de sanidade e de produtividade nas plantas desenvolvidas pelo centro internacional, visando identificar fortalezas e fragilidades em ambiente tropical. O trabalho vai contribuir com as ações da entidade em nível global para avaliar o desempenho dos genótipos em diversos ambientes de cultivo de trigo. “Após a avaliação a campo, os genótipos mais promissores voltam para o CIMMYT fazer a genotipagem em laboratório e identificar genes de resistência”, conclui Strieder. Ele destaca que nem sempre a resistência genética se confirma nas condições brasileiras, mas pode ser útil em outro país, por isso a importância da colaboração global.
Segundo o diretor do Programa de Trigo no CIMMYT, Flávio Breseghello, a equipe do trigo no centro está muito entusiasmada com a perspectiva renovada de uma colaboração mais intensa com a Embrapa. “Vemos muitos pontos de interesse comum no melhoramento do trigo, especialmente para resistência a doenças que são importantes no Brasil, mas também em vários outros países onde o CIMMYT atua”, afirma Breseghello. Ele observa que o maior obstáculo à colaboração entre o CIMMYT e a Embrapa tem sido o trânsito de germoplasma entre os países. “Estamos retomando esta questão, confiantes de que os processos estão sendo conduzidos com alta qualidade e segurança para ambas as partes. Portanto, esperamos retomar o fluxo de diversidade genética útil entre as instituições já em 2025 e, com isso, abrir muitas outras oportunidades de colaboração”.
Já o diretor de P&D da Embrapa, Clenio Pillon, lembra que o trigo e o milho são espécies agroalimentares estratégicas para o Brasil, pois são a base da nossa alimentação. "Ampliar a cooperação científica e tecnológica com instituições de excelência e referência é fundamental para potencializar os avanços em direção a uma maior adaptação dos cultivos à mudança do clima, bem como para a superação mais rápida de problemas críticos para a cadeia produtiva do trigo, como a giberela e a brusone", destaca.
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